Tive análise hoje.
O relato da minha reaproxiamação com meus dois melhores-amigos da Era Cursinho acabou ensejando um desabafo contido, uma confissão cuspida, eu odeio ser mediadora entre minha mãe e minha madrasta (ou mulher-do-meu-pai pra não ficar tão folclórico). O grito veio tão do fundo que eu mal terminei a sessão de tão engasgada, a voz não saía, as palavras travavam, tosse, tosse, uma moeda de 50 centavos na garganta.
As meninas da minha classe combinaram uma balada só para meninas hoje. Me chamaram e tudo - eu recusei, recuso por princípio, é a falta de dinheiro, a falta de saco, a preguiça de achar lugar pra parar o carro e os flanelinhas ou a facada do estacionamento, o incômodo da fila do banheiro sempre sujo. Mas sabe, hoje quando as vi juntas, ti-ti-tis na aula de Opinião Pública, cheias de batom, entusiasmo, rímel e animação, me deu vontade de ir junto. Nem lembro a última vez que me acabei de dançar numa balada, fiquei bebinha, vi e fui vista.
Ainda veio o bichinho do ciúme e me mordeu, a Laura-que-entrou-na-classe-no-ano-passado dizendo pra Laura-que-é-minha-melhor-amiga-na-USP, deixa eu te devolver seu brinco, a Laura-que-ultimamente-eu-nem-sou-mais-a-primeira-a-saber-com-quem-ficou-na-festa diz pra ela deixar em cima da mesa no quarto quando passar na casa dela, e não esquece de pegar seu top de volta, onde eu tava quando elas começaram a emprestar coisas uma pra outra?
- Tchau, meninas, esbaldem-se na balada por mim!... - Mi, porque você não vem com a gente? - Viajo amanhã cedo, a falta de dinheiro... - Ah, vem, te empresto o dinheiro... (essa é a Laura-que-acabou-de-chegar-na-turma-falando, vejam bem).
Eu queria ir. Mas não fui. Sabe porque? Nem eu.
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