30 maio 2005




I will survive*


Ai, e acabou que nem deu tempo de contar.

Pois na 2a passada saí com ela da casa da Ci, toda serelepe e saltitante, e esqueci lá a minha mochila verde. Não é que eu guarde na minha mochila verde muitas jóias e diamantes, ou que ela tenha essa cor por ser feita de dólares, é uma mochila bem normal e surrada, mas ia precisar da bichinha pra viajar na 4a, e por isso obrigatoriamente tive que ir correndo na 3a à noite pra Santana buscar a preciosa mochila verde.

Conversa vai conversa vem com a Ci, eram quase 11h30 da noite e achamos que tava na hora de eu tomar o caminho da roça. A chuvinha que eu tinha pegado pra chegar até lá tinha aumentado um pouquinho, mas não tem problema, a Ci me emprestou um guarda-chuva pra eu chegar até o carro e vamos lá, afinal eu nem sou feita de açúcar e não era exatamente de uma tempestade, certo?

Errado. Era uma PUTA tempestade (desculpe o linguajar, mas tô querendo ser precisa nos fatos). Visualize as imagens sobre o temporal de 3a feira em São Paulo. Agorta me visualize no meio. Então, né?

Logo na descida daquela rua-que-eu-não-sei-o-nome, na frente do metrô Parada Inglesa, quando dei por mim tava com a água batendo em cima dos pneus do carro. Mas com a força de Iansã (ser bem-relacionada é tudo nessa vida, inda bem que sou chegada na filha da tal da Senhora das Tempestades) eu e meu Gol Guerreiro 1.0 94 atravessamos o aguaceiro. O problema quando eu cheguei do outro lado foi o seguinte raciocínio muitíssimo procedente: se aqui, no meio da descida, as coisas tão desse jeito, nem com tooodo o panteão africano me empurrando eu passo da Marginal.

Era a hora de bater em retirada estratégica. Virei à direita, encostei o Gol Guerreiro 1.0 94 (que ainda estava com a rotação acelerada por causa do susto, tadinho) e liguei pra Ci pedindo asilo. E comecei a voltar, ou melhor, a tentar voltar pra casa dela por um caminho que não fosse o alagado. Mas não dava. Nenhum caminho me levava pra Roma. Meu raciocínio foi, de novo, muitíssimo procedente: vou voltar por onde eu vim, afinal quem passou uma vez passa de novo, certo?

Mais ou menos. Porque nos 5 minutos em que eu liguei pra Ci e tentei achar a rota alternativa, aquele aguaceiro tinha se transformado em dois, e aumentado consideravelmente de profundidade. O ônibus lá parado antes do alagado, e a (corajosa? estúpida? insensata? heroína-de-meia-tigela?) espertinha aqui ultrapasssa e vai pra dentro d'água achando que meu Gol Guerreiro 1.0 94 tinha se transformado magicamente num veículo anfíbio (olhaí a Síndrome do Plin de novo).

Mas como eu sou rabuda e não acredito no azar, passei de novo pelos aguaceiros.

Mas não podiam ser tudo flores (aquáticas).

Porque alguma coisa começou a pifar no carro. Eu ia subindo a ladeira e o carrinho ia engasgando. Eu ia acelerando e o pobre Gol Guerreiro 1.0 94 ia pifando. Graças à relação de confiança e intimidade que desenvolvi com meu automóvel, negociei que ele chegasse ao menos no alto da subida, dali em diante era só descida pra casa da Ci e ele podia desfalecer que eu me garantia na banguela. Ele chegou. Mas eu não contava com a valeta da esquina da casa da Ci. Tive que frear logo depois de virar na rua dela, e lá mesmo eu fiquei.

"Menos mal", pensei, "tô na frente de um boteco cheio de marmanjão e com certeza uma meia dúzia vai se prontificar a me ajudar e empurrar o carro por alguns metros". Você ajudou? Nem eles. Todos me olharam com cara de "quem é a esquisita" quando entrei toda esbaforida e molhada no boteco, pedindo a alguma alma caridosa que me ajudasse a tirar o Gol Guerreiro 1.0 94 do meio da rua. "Nessa chuva, benzinho, não rola". E voltaram todos a bebericar seus conhaques Dreher com a maior pose de não-me-toques.

Foi aí que eu perdi a calma, sabe. Antes eu até tava me controlando, mas aí eu fiquei puta.

Voltei pro carro, e liguei pra Ci pra contar a situação ridícula em que eu me encontrava. Liguei pra minha mãe que deveria estar esperando uma ligação minha há horas pra dizer que eu tinha chegado em casa (bad, bad idea - tive que contar onde e como eu estava e aí a velha surtou). Liguei pra ela pra dizer que não me esperasse ligar à meia-noite.

Foi então que um menino simpático se compadeceu da minha situação e me ajudou, pelo menos, a encostar o Gol Guerreiro 1.0 94 no meio-fio. As coisas já melhoravam bastante. Nada do carro pegar, claro, mas agora eu podia ir pra casa da Ci a pé e esperar por um novo dia menos murphiniano. Foi o que fiz, mas não sem antes (é claro) o amortecedor do porta-malas quebrar e aquela porta do peso de um rinoceronte cair em cima de mim, toda uma dificuldade pra pegar o triângulo (meu carro estava em lugar proibido e achei que era uma boa idéia tentar evitar a multa), toda uma dificuldade pra montar o triângulo enquanto eu segurava o guarda-chuva, a mochila verde, a bolsa e a porta do porta-malas, mas enfim, fui pra casa da Ci. Tomei um banho quente, tive um surton nervoso, contei pra ela tudo o que tinha acontecido e fui dormir (não necessariamente nessa ordem).

No outro dia, quanta diferença. O dono do mesmo boteco hostil que me maltratara me explicou que o que fazia meu carro não pegar era o dinamizador que tinha ficado molhado. Não obstante, ele foi no posto, pegou um paninho embebido de gasolina, abriu o dinamizador (que eu agora até sei onde fica), secou passando a gasosa dentro dele e - tcharan! - o carro pegou.

Mesmo assim, voltei pra casa de metrô porque a cidade ainda era um pântano e eu não sou tão besta assim.

*Agradecimentos especiais ao meu pai, que foi buscar o carro no dia seguinte, e à D. Iansã por ter dado uma folga e assim permitido que a água da Marginal baixasse, e eu pude viajar no feriado.



 


.: Mirana soprou às 15:51 :. .: 0 ventos alheios :.

 

 


Mirana é uma existência efêmera nesse planeta, e isso a perturba um pouco, mas antes isso do que ser eterna. É relações públicas, finalmente graduada, enquanto deseja secretamente ser escritora de guias de viagem e/ou acrobata. Para viver precisa freqüentemente ler bons livros e dançar. Tem uma mãe sazonal, uma irmã essencial e um pai de quem não ouve mais falar, e vive bem assim, obrigada. É preguiçosa crônica, em tratamento, e tem apresentado sintomas claros de dependência do seu iPod. Guarda duas dúzias de pessoas no coração, e sempre se arrepende quando deixa passar muito tempo sem vê-las. Ama contemplar longamente o pôr-do-sol, o mar e a chuva. Já quis ter 42 anos, hoje vive bem com seus 30, mesmo se sentindo às vezes uma adolescente ingênua e espevitada, às vezes uma velha cansada e rabugenta. Tem TPM, mas nega até a morte. Vive em guerra com a balança e é preciso admitir que anda perdendo as últimas batalhas. Pretende ainda ter gatos e filhos, mas no momento declina da resposabilidade pela vida de outros. Veio ao mundo com uma missão pessoal e intransferível: ser feliz.




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