Os competidores vêm se aproximando. As atletas estão na reta final da maratona. O público observa o rosto suado, apreensivo e concentrado da mulher branquela que vem liderando a prova. "Ela até que corre bem pra uma gordinha, né?", comentam as linguas maliciosas à boca pequena. A respiração acelerada, a passada firme que não se altera há mais de uma hora. A futura campeã olha pra trás rapidamente, numa última checagem da sua vantagem em relação à segunda colocada. Ela percebe que a vitória é inevitável. Ela já começa a pensar no troféu, na champagne, os louros da vitória no pódio. O público da maratona aplaude, grita, incentiva. Agora faltam alguns metros, algumas passadas. Ela divisa claramente a linha de chegada, os nomes dos patrocinadores. Ali, logo na frente, a tão almejada linha de chegada. Ela está cansada, ela vem se preparando para esse momento há mais de um ano. Ela sabe que o momento é seu e é merecido. Ela sorri para as duas meninas que seguram a faixa simbólica da chegada. As meninas sorriem de volta. É agora, está chegando o meu momento. Ela levanta os braços e fecha os olhos, se entregando ao deleite de sentir a faixa da chegada roçando em seu abdômen.
Nada. Ela abre os olhos e vê que as meninas que seguram a faixa correram para 100 m adiante. Ela respira fundo e continua correndo, se arrastando. Falta só mais um pouquinho agora, mas esses 100m extras são os mais longos da sua vida.
Essa é a sensação te ter as suas férias adiadas em uma semana, quando faltava um diazinho só pra ela chegar.
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