.: Numa tarde Adélia Prado :.
A CÓLERA DIVINA
Quando fui ferida, por Deus, pelo Diabo, ou por mim mesma, - ainda não sei - percebi que não morrera, após três dias, ao rever pardais e moitinhas de trevo. Quando era jovem, só estes passarinhos, estas folhinhas bastavam para eu cantar louvores, dedicar óperas ao Rei. Mas um cachorro batido demora um pouco a latir, a festejar seu dono - ele, um bicho que não é gente - tanto mais eu que posso perguntar Por que razão me bates? Por isso, apesar dos pardais e das reviçosas folhinhas uma tênue sombra ainda cobre meu espírito. Quem me feriu perdoe-me.
Porque há coisas que nunca poderão ser desfeitas Dores que eu nunca poderei querer fingir que não tive. Crescer é isso. Eu acho.
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