Era uma noite de café, jogo, tabaco e amor que foi se esticando até encontrar uma manhã de uma segunda-feira fora do tempo. Era segunda-feira, era ainda a última noite de um dia que agonizava, era uma segunda-feira de feriado auto-decretado. Eu estava cansada, saturada, resignada.
E veio a luz, mais forte que a do sol: completava-se ali um ano. Inteiro, completo. Um ciclo do sol, mais de cinquenta da lua, quatro estações.
Já faz um ano desde aquela noite que eu passei revirada, revolvida, sem conseguir dormir, pendulando na questão mais difícil que já tive que resolver: ir ou não ir?
Completou aniversário aquele amanhecer em que eu pulei da cama, ágil como uma gata, em um instante em que todas as tormentas dentro de mim se condensaram numa única certeza: eu ia.
Há um ano eu cheguei de novo naquela que tinha sido minha ex-casa, muito mais resignada, cansada, saturada, revirada e revolvida do que eu jamais estive, com olheiras que marcavam meu peito, nenhuma esperança de ser feliz nunca mais, angústia angústia angústia em cada poro, vergonha, e um medo que eu nem sabia dar nome.
E olha eu aqui hoje. Guardo na minha pele um milhão de dores desse ano que passou. E no fundo de mim, num lugar que só eu sei como se chega, guardo também as maiores alegrias preciosas que jamais imaginei ter.
A quem interessar possa: valeu a pena.
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